terça-feira, 31 de julho de 2012

Homenagem ao Chicão!


VAI – Intervenção dia 25 de julho

Hoje fizemos intervenção na Rua Gabriel Piza e Ezequiel Freire – pela primeira vez. Tudo novo hoje, desbravamos um outro lugar e ainda contamos com a Gabi a paisana nos acompanhando... Hoje foi tudo diferente. E pra “ornar” vamos fazer desse um relatório diferente também, vamos contar aqui um único encontro, pois em meio a tantos outros, tão encantadores quanto, esse nos saltou aos olhos...

Homenagem ao Chicão


-Qual seu nome?
-Eu moro na rua!
-Tá. Mas qual é o seu nome?
-O meu nome é Chicão. Eu moro na rua. Ninguém para aqui. Eu vi vocês passando lá do outro lado da rua...  E agora... Vocês estão aqui. Pararam aqui!

Engraçado perceber como nós as “pessoas” deixamos de perceber os “outros” que estão à margem. Elas deixam de existir na sociedade. E o palhaço também está à margem – a diferença é que ele não fede e também não deixa de existir para o outro – o nariz é o “pic’s”, o palhaço pode permear esse lugar do “diferente”, a sociedade lhe permite estar à margem sem problemas. Historicamente, o palhaço é comparado ao bêbado; pelo nariz vermelho, pela não adequação as regras, pela “vagabundagem”... E vagabundo, segundo dizem, é aquele que vaga pelo mundo, daí tudo se explica, é com aqueles que estão à margem nossa mais profunda identificação. Encontramos o Chicão na R. Gabriel Piza, sentado numa mureta, em frente a uma igreja, e o sentimento de que ali éramos chamados foi unânime.  Paramos e proseamos por uns vinte minutos ou mais...
-Olhando pra vocês. Eu quero falar que eu tenho um amigo. Eu fui muito amigo do Chico Anysio. Eu sou do Ceará!
-Lá tem ótimos piadistas, não é? Ah, conto uma piada...
-...
-Ah, eu sei uma! Posso contar?
-Pode...

Contamos uma piada. Foi incrível... O Chicão não riu.
-É... Não temos o sangue Cearense. Nascemos em São Paulo. Conhece São Paulo né?
-Conheço... Conheço...
-Conhece Santo André?
-Santo André!
-São Caetano?
-São Caetano!
-Osasco?
-Osasco!
-Arthur Alvin?
-Arthur Alvin!
E assim fomos, falando nomes de dezenas de Cidades, Estados e Bairros. E Chicão repetia os nomes, mostrando que os conhecia também.

-O Sr. Sabe alguma história aqui de Santana?
-Não. Eu sou de Fortaleza!
-E uma música? Quer cantar?
-Cantar eu sei. Vamos cantar.
-Se for forró, a rolha toca triangulo.
-Não é forró! (E olhou com cara feia para o triangulo nas mãos de Rolha - que o guardou rapidamente) Então eu vou oferecer essa música pra toda minha família... “EUuu tenho tanto... pra lhe falarrr, MAS com... palavras NÃO sei dizer Como é grande o meu amorrrr, por vocêÊÊ. NUNca se esqueça NENHUM... momento... (pausa) que eu TENho amor... nenhum momento. COMO é GRANDE o meu amorrrrrr... porrrr VOcÊ!”
Nós o acompanhamos com bolhas e ukulêlê. Ele fechou os olhos e cantou com toda força e foi a primeira vez, desde que estávamos ali, que ele levantou a cabeça. Naquele momento, de olhos fechados, enquanto cantava para a sua família, ele passou a existir com toda sua potência.

Ele não nos pediu nada, pelo contrário, até rejeitou as bananas e os chicletes que lhe oferecemos. Disse que já tinha, não precisava de nada, estava cheio (apontou para os bolsos) de bananas e laranjas. Ofertamos-lhe então, um pequeno carrinho azul. Ele ficou feliz com o carrinho... E nós ainda mais felizes pela conversa e pelas canções compartilhadas num canto quase esquecido da cidade. E muita gente que passava por ali não entendia, mas de algum modo compreendiam – porque compreender é algo que não passa pelo entendimento.
Ainda cantamos “O Calhambeque”, do Rei – enquanto ele fazia eco ao nosso coro de “Bi-bi” no refrão. Ali nos despedimos.
-Eu não sei qual é o trabalho de vocês. Não sei qual o projeto de vocês, mas é lindo!

Chicão ficou sentado na mesma mureta que o encontramos... Ao olhar pra trás ainda podíamos vê-lo segurando o carrinho com as duas mãos e observando o pequeno calhambeque com muita atenção.

Agora o Chicão é um dos nossos Amigos... Colegas... SERES HUMANOS... Palhaços!


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