VAI – Intervenção dia 25 de julho
Hoje fizemos intervenção na Rua Gabriel Piza e Ezequiel Freire – pela primeira vez. Tudo novo hoje, desbravamos um outro lugar e ainda contamos com a Gabi a paisana nos acompanhando... Hoje foi tudo diferente. E pra “ornar” vamos fazer desse um relatório diferente também, vamos contar aqui um único encontro, pois em meio a tantos outros, tão encantadores quanto, esse nos saltou aos olhos...
Homenagem ao Chicão
Hoje fizemos intervenção na Rua Gabriel Piza e Ezequiel Freire – pela primeira vez. Tudo novo hoje, desbravamos um outro lugar e ainda contamos com a Gabi a paisana nos acompanhando... Hoje foi tudo diferente. E pra “ornar” vamos fazer desse um relatório diferente também, vamos contar aqui um único encontro, pois em meio a tantos outros, tão encantadores quanto, esse nos saltou aos olhos...
Homenagem ao Chicão
-Qual seu nome?
-Eu moro na rua!
-Tá. Mas qual é o seu nome?
-O meu nome é Chicão. Eu moro na rua. Ninguém para aqui. Eu vi vocês passando lá do outro lado da rua... E agora... Vocês estão aqui. Pararam aqui!
Engraçado perceber como nós as “pessoas” deixamos de perceber os “outros” que estão à margem. Elas deixam de existir na sociedade. E o palhaço também está à margem – a diferença é que ele não fede e também não deixa de existir para o outro – o nariz é o “pic’s”, o palhaço pode permear esse lugar do “diferente”, a sociedade lhe permite estar à margem sem problemas. Historicamente, o palhaço é comparado ao bêbado; pelo nariz vermelho, pela não adequação as regras, pela “vagabundagem”... E vagabundo, segundo dizem, é aquele que vaga pelo mundo, daí tudo se explica, é com aqueles que estão à margem nossa mais profunda identificação. Encontramos o Chicão na R. Gabriel Piza, sentado numa mureta, em frente a uma igreja, e o sentimento de que ali éramos chamados foi unânime. Paramos e proseamos por uns vinte minutos ou mais...
-Eu moro na rua!
-Tá. Mas qual é o seu nome?
-O meu nome é Chicão. Eu moro na rua. Ninguém para aqui. Eu vi vocês passando lá do outro lado da rua... E agora... Vocês estão aqui. Pararam aqui!
Engraçado perceber como nós as “pessoas” deixamos de perceber os “outros” que estão à margem. Elas deixam de existir na sociedade. E o palhaço também está à margem – a diferença é que ele não fede e também não deixa de existir para o outro – o nariz é o “pic’s”, o palhaço pode permear esse lugar do “diferente”, a sociedade lhe permite estar à margem sem problemas. Historicamente, o palhaço é comparado ao bêbado; pelo nariz vermelho, pela não adequação as regras, pela “vagabundagem”... E vagabundo, segundo dizem, é aquele que vaga pelo mundo, daí tudo se explica, é com aqueles que estão à margem nossa mais profunda identificação. Encontramos o Chicão na R. Gabriel Piza, sentado numa mureta, em frente a uma igreja, e o sentimento de que ali éramos chamados foi unânime. Paramos e proseamos por uns vinte minutos ou mais...
-Olhando pra vocês. Eu quero falar que eu tenho um amigo. Eu
fui muito amigo do Chico Anysio. Eu sou do Ceará!
-Lá tem ótimos piadistas, não é? Ah, conto uma piada...
-...
-Ah, eu sei uma! Posso contar?
-Pode...
Contamos uma piada. Foi incrível... O Chicão não riu.
-É... Não temos o sangue Cearense. Nascemos em São Paulo. Conhece São Paulo né?
-Conheço... Conheço...
-Conhece Santo André?
-Santo André!
-São Caetano?
-São Caetano!
-Osasco?
-Osasco!
-Arthur Alvin?
-Arthur Alvin!
-Lá tem ótimos piadistas, não é? Ah, conto uma piada...
-...
-Ah, eu sei uma! Posso contar?
-Pode...
Contamos uma piada. Foi incrível... O Chicão não riu.
-É... Não temos o sangue Cearense. Nascemos em São Paulo. Conhece São Paulo né?
-Conheço... Conheço...
-Conhece Santo André?
-Santo André!
-São Caetano?
-São Caetano!
-Osasco?
-Osasco!
-Arthur Alvin?
-Arthur Alvin!
E assim fomos, falando nomes de dezenas de Cidades, Estados
e Bairros. E Chicão repetia os nomes, mostrando que os conhecia também.
-O Sr. Sabe alguma história aqui de Santana?
-Não. Eu sou de Fortaleza!
-E uma música? Quer cantar?
-Cantar eu sei. Vamos cantar.
-Se for forró, a rolha toca triangulo.
-Não é forró! (E olhou com cara feia para o triangulo nas mãos de Rolha - que o guardou rapidamente) Então eu vou oferecer essa música pra toda minha família... “EUuu tenho tanto... pra lhe falarrr, MAS com... palavras NÃO sei dizer Como é grande o meu amorrrr, por vocêÊÊ. NUNca se esqueça NENHUM... momento... (pausa) que eu TENho amor... nenhum momento. COMO é GRANDE o meu amorrrrrr... porrrr VOcÊ!”
-O Sr. Sabe alguma história aqui de Santana?
-Não. Eu sou de Fortaleza!
-E uma música? Quer cantar?
-Cantar eu sei. Vamos cantar.
-Se for forró, a rolha toca triangulo.
-Não é forró! (E olhou com cara feia para o triangulo nas mãos de Rolha - que o guardou rapidamente) Então eu vou oferecer essa música pra toda minha família... “EUuu tenho tanto... pra lhe falarrr, MAS com... palavras NÃO sei dizer Como é grande o meu amorrrr, por vocêÊÊ. NUNca se esqueça NENHUM... momento... (pausa) que eu TENho amor... nenhum momento. COMO é GRANDE o meu amorrrrrr... porrrr VOcÊ!”
Nós o acompanhamos com bolhas e ukulêlê. Ele fechou os olhos
e cantou com toda força e foi a primeira vez, desde que estávamos ali, que ele
levantou a cabeça. Naquele momento, de olhos fechados, enquanto cantava para a
sua família, ele passou a existir com toda sua potência.
Ele não nos pediu nada, pelo contrário, até rejeitou as
bananas e os chicletes que lhe oferecemos. Disse que já tinha, não precisava de
nada, estava cheio (apontou para os bolsos) de bananas e laranjas. Ofertamos-lhe
então, um pequeno carrinho azul. Ele ficou feliz com o carrinho... E nós ainda
mais felizes pela conversa e pelas canções compartilhadas num canto quase
esquecido da cidade. E muita gente que passava por ali não entendia, mas de
algum modo compreendiam – porque compreender é algo que não passa pelo
entendimento.
Ainda cantamos “O Calhambeque”, do Rei – enquanto ele fazia
eco ao nosso coro de “Bi-bi” no refrão. Ali nos despedimos.
-Eu não sei qual é o trabalho de vocês. Não sei qual o projeto de vocês, mas é lindo!
Chicão ficou sentado na mesma mureta que o encontramos... Ao olhar pra trás ainda podíamos vê-lo segurando o carrinho com as duas mãos e observando o pequeno calhambeque com muita atenção.
Agora o Chicão é um dos nossos Amigos... Colegas... SERES HUMANOS... Palhaços!
-Eu não sei qual é o trabalho de vocês. Não sei qual o projeto de vocês, mas é lindo!
Chicão ficou sentado na mesma mureta que o encontramos... Ao olhar pra trás ainda podíamos vê-lo segurando o carrinho com as duas mãos e observando o pequeno calhambeque com muita atenção.
Agora o Chicão é um dos nossos Amigos... Colegas... SERES HUMANOS... Palhaços!