quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Trupe DuNavô - um olhar de fora... Por Suzana Aragão




Intervir na cidade
  
No sistema capitalista, onde tudo deve por obrigação ter uma função utilitária, o palhaço no centro comercial é imediatamente relacionado à propaganda das lojas, ou seja, está ali para divulgar algo ou pedir dinheiro. A Trupe Dunavô vem subverter, como é de sua natureza, essa lógica esperada. Após, muitas vezes, responder que não está atendendo a nenhuma dessas duas possibilidades, um campo criativo, poético, fantástico é aberto, onde o encontro evoca memória, saudade, pessoalidade e todas as dúvidas que os palhaços sempre inventam levantar.
Quais são as possibilidades de estranhar e recriar o cotidiano? Talvez seja, no caso dessa trupe, a de interferência direta. Exigindo desses jovens artistas manter o pensamento sempre aquecido, pois a necessidade de subversão do arquétipo do palhaço, requer muita atenção. O convite é sempre apaziguar qualquer problemática ou reiterar o senso comum, ação realizada com eficiência pela televisão. Mas eis nossa tarefa, abrir a porteira sem fim, (re)ver o mundo.
Durante o acompanhamento e orientação que fiz à trupe, pude provocá-los de diversas maneiras: indo à rua com enunciado mais fechado ou muito aberto, com tarefa de diversas ordens. Foram experiências que visavam discutir a função deste palhaço que não quer ser absorvido como demonstrador de produto.
O que tento concluir da experiência da Trupe Dunavô na edição do Programa Vai de 2012, é que estes jovens artistas, conseguem estabelecer uma “verdade” no encontro que não beira o espetacular, mas cria uma interessante tensão entre realidade e arte, não é mais o palhacinho da loja de 1,99 que é visto pelo espectador/encontrador, mas uma figura arquetípica que abre alas e promove a aparição de cantadores, poetas, seres humanos capazes de dividir e recriar suas histórias mais íntimas e ainda serem surpreendidos pela interpretação dos fatos dada pelos palhaços.
A Trupe Dunavô tem potencial artístico suficiente pra realizar uma trajetória engajada e rigorosa.


Suzana Aragão - parceira e orientadora da Trupe 
no Projeto aprovado pela edição de  2012  do VAI!

Nenhum comentário:

Postar um comentário